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domingo, 25 de dezembro de 2016

Uma reflexão sobre a atuação de pragmáticos e reflexivos em 2016 e a projetação de 2017: uma análise plural.

Segundo Castells (2010), todo tempo parece ser específico a um determinado contexto, o tempo é local. De fato, o tempo foi nosso maior aliado e, às vezes, maior inimigo, no contexto do Mestrado. Cada um do seu jeito, superando as adversidades, as noites mal dormidas, as madrugadas de aprofundamentos em frameworks aprendidos.

O ano de 2016 foi intenso. De leituras, leituras e mais leituras. Trabalhos, trabalhos e mais trabalhos. Acredito que todos concordam com Bentz (2016): "é muita coisa para ler e pouca vida". Por isso, eventualmente, sim, nos permitimos em 2016, ler apenas as páginas pares. Às vezes, apenas as páginas ímpares. Variamos muito durante o ano.

Mas não importa. O que importa é que mais um ano se foi. Mais um ano ficou para trás, com muitos créditos acadêmicos concluídos. Borboletas. Porém, resta um outro punhado de créditos para cumprir no ano que vem. Uns mais, outros menos. 2016 foi o ano em que incluímos o desconhecido na nossa rotina. A desconhecida, porém desejada, jornada do Mestrado.

Aprendemos muita coisa em 2016: Morin, Manzini, Desmet, Cross, Zurlo e Ouden (lista não exaustiva). Aprendemos muita coisa sobre design, métodos, experimentos, inovação.

Entretanto, nosso maior aprendizado, lhes asseguro, foi em redes. Rede de inovação? Rede de projeto? Rede colaborativa? Não: rede de amizades. Uma rede que começou a ser formada em março desse ano e a cada dia de aula que tínhamos ficava mais intensa. Novas conexões foram se formando e mais tarde foram se fundindo com outras turmas até que chegamos no final do ano com três turmas de Mestrado compartilhando experiências ao mesmo tempo. Que momento! Novas amizades, novos projetos, novas caronas, novas experiências foram viabilizadas por esses mestrandos que não se acomodaram para “dar jeito” nas coisas. Aprendemos uns com os outros. E, por grupos de whatsapp e facebook, os “discípulos de Morin” deram força uns para os outros. O prazo do artigo estava chegando? Uma fotinho de incentivo, um comentário encorajador (ou mesmo de desespero), sempre fez com que fôssemos mais longe. Bem longe, perto das 22h15.

Foram seminários, workshops, artigos, exercícios projetuais. Relações racioafetivas e inspiração para cada uma das semanas, mesmo que essas fossem contadas de trás para a frente. Cabritos. A intensidade do Mestrado só não foi mais forte que a intensidade dessa amizade em rede. O ecossistema fortalecido a cada semana que passava. O ecossistema que tornou mais forte a rede, que sempre demonstrou mais força na sala CPA306, no formato tradicional, com a "bancada do agronegócio" ao fundo. A epistemologia, hemorragia da desordem que transformou a degradação anunciada em uma rede concreta, sustentável e com bases fundadas na complexidade. Mas concordamos, tudo nesse ano foi complicado.

Não ocorreu, desde o espremedor de Phillipe Starck, um design tão perfeito como esse que criamos: pragmáticos e reflexivos. Essa divisão conquistou muita gente. E, muito embora essa divisão não diga absolutamente nada para o ecossistema ao redor do nosso, diz muito para a gente. E sobre a gente. Orangotangos. O ecossistema que talvez dividisse a turma, mas que trouxe um significado ainda maior: nos uniu cada vez mais naquilo que seria um registro de uma forma metafórica do significado teórico (BENTZ, 2016). É impossível falar de pragmáticos e reflexivos sem lembrar de Van Onck (1965). O deslocamento existencial de cada um de nós nos transformou em “pragmáticos reflexivos” e “reflexivos pragmáticos”, de modo que tivemos que desenvolver certas habilidades para sobreviver 2016. De todas as atitudes do designer (MICHLEWSKI, 2008), me parece que “criar e trazer à vida”, foi a grande habilidade que nos uniu. Criamos artefatos, reflexões, e trouxemos à vida artigos que ajudaram nos diferentes raciocínios, para entender o contexto da complexidade que vivíamos. Autopoiese.

A atribuição do designer de ver, prever e fazer ver (ZURLO, 1993) nos fez ver as tarefas que tínhamos que entregar durante o ano, prever os impactos de nossos trabalhos e fazer ver artigos, seminários, exercícios projetuais. Semanalmente.

Nesse ano, acompanhamos a história do Caramelo (ANDRADE, 2016), vimos colegas marcando presença no SXSW (PAZ, 2016), acompanhamos a batucada tomar conta (LUZ, 2016), uma aceleradora acelerar cada vez mais (MAKARIEWICZ, 2016), a intenção das casas colaborativas virarem Cooperativas (BUENO, 2016), e, por consequência, também compreendemos o quanto "ser cooperativo" é legal (SANTOS, 2016). Aprendemos a ser mais cachorro (BOLZAN, 2016), nos demos conta que tem sim como conciliar o Mestrado com os desenhos, mesmo que simultaneamente (FRIEDRICHS, 2016), aprendemos que sempre tem um lado positivo para ver as coisas (SILVEIRA, 2016), descobrimos como respirar fundo e falar um raciocínio em 5 minutos sem parar (MANDELLI, 2016) e percebemos mais uma perspectiva de atração a riscos (LACERDA, 2016). Em Estudos Avançados, entendemos como é possível fazer 8 logotipos originais em 40 minutos (LORENZ, 2016). E vimos as semanas serem contadas de trás para a frente (LIMA, 2016). Compreendemos que o Mestrado é muito mais que os créditos acadêmicos obrigatórios (VIANNA, 2016) e também aprendemos que se nada mais tiver jeito, Igrejinha está de braços abertos com a Oktoberfest (COPES, 2016) para esquecer tudo.

E, nesse contexto complexo, em meio às curvas de Gaudi, às obras de Eiffel ou aos ecossistemas de Ouden, vemos o ano de 2017 se avizinhar. Estamos a alguns dias de iniciar o ano com mais dois desafios de “fazer ver”: fazer ver o artigo de redes (agora com prazo até 01/02) e o artigo final de Processos e Significação (prazo de 28/02). Em meio às nossas férias, veremos data se aproximar, preveremos o resto do ano... e, não haverá alternativa: precisaremos fazer ver os resultados. E finalmente entregar. Os obstáculos terão que ser superados até o final. E, de acordo com Flusser (2008), a superação desses obstáculos, criarão novos obstáculos, pois o calendário será implacável conosco no próximo ano: precisamos fazer ver a nossa qualificação. O prazo de 31/03 parece arrefecer nossos corações, já que a outros compromissos não nos permitirão entregar antes disso (risos). Sim, a vida é dura. Assim como é dura a vida das abelhas.

Mas como nem tudo na vida é complexidade, teremos as festas de Ano Novo. Sim, porque o tempo dos mestrandos passa mais rápido cada vez que pensamos. Ou cada vez que pensamos que, além do Mestrado, a vida vivida nos impulsiona para um 2017 ainda mais intenso. Que só não será mais tenso que o primeiro trimestre de 2018, quando defenderemos a nossa dissertação, para justificar o trabalho desenvolvido em 2 anos de amizade. Digo, de Mestrado.

E que 2017 seja um ano cheio de simplicidade!

Porque, de complexo, já temos Morin. J

sábado, 9 de abril de 2016

O problema do problema do design – Resenha Kees Dorst

O problema do problema do design – Resenha

A ideia central do artigo de Kees Dorst é apresentar como os designers enfrentam os problemas de design e como os níveis de especialização são importantes para a compreensão das situações encontradas. Além disso, o autor procura esclarecer porque os designers tomam as ações que tomam, bem como a forma de propor soluções a partir dos mesmos níveis de especialização, para o desenvolvimento dos projetos, conforme a estrutura dos problemas de design.
Dorst inicia o artigo apresentando os problemas do design sob três naturezas: os problemas parcialmente determinados, os subdeterminados e os não-determinados. Se design está relacionado com “resolver problemas”, o designer precisa logo iniciar compreendendo o problema, camada por camada, para desenvolver soluções apropriadas para cada situação. Dorst também traz a discussão a respeito dos paradigmas de Schön e Simon. Por um lado, Simon diz que o design é visto como um processo racional de solucionar problemas. Do outro, Schön descreve o design como uma prática reflexiva.
Em uma entrevista de Massimo Vignelli, incluída na compilação “Design em Diálogo”, ele diz que “não existe solução de problemas em termos absolutos. Sempre é uma interpretação de um problema”. Além de justificar o caráter objetivo e subjetivo do designer referido por Dorst no artigo, tal leitura justifica ainda os níveis de especialização, os quais são determinantes para o entendimento do problema e para a proposição das soluções inovadoras para todos interessados, por parte do designer.
Em função disso, justificam-se justamente as questões colocadas por Dorst (trazidas de Hubert Dreyfus), em razão da especialização necessária para cada tipo de problema, as cinco maneiras de perceber, interpretar, estruturar e solucionar problemas: i) novato, ii) iniciante, iii) competente, iv) proficiente e v) perito. Dorst, 2004, ainda refere outros dois níveis dentro do modelo de desenvolvimento da especialização do design: mestre e visionário. Todas as etapas, consideradas como “modelo de desenvolvimento” da especialização em design, podem ser consideradas como uma forma evolutiva para o próprio designer. Uma forma de evolução, de aprendizado.
Complementarmente, entende-se que as especializações também vêm acompanhadas da carga pessoal que os designers trazem, o que faz com que tomem as decisões com base também nas suas experiências e repertório pessoal, o que torna impossível realizar uma classificação taxonômica apropriada dos problemas de design. Assim, as experiências do designer são também importantes para que ele conduza os processos de entender as camadas dos problemas para apresentação de uma solução adequada.

DORST, K. 2003. The problem of Design Problems. In: Design Thinking Research Symposium. Sydney: Sydney University of Technology, 2003.

DORST, K. REYMEN, Isabelle. 2004. Levels of expertise in Design Education. International Engineering and Product Design Education Conference: Holanda, 2004.

HELLER, S. PETTIT, E. 1998. Design em diálogo. COSAC Naify: Brasil, 2013.


quinta-feira, 17 de março de 2016

A banca do Mestrado é libertadora

No dia do maior caos político no país desde a queda de Fernando Collor, estou na Unisinos hoje, para acompanhar uma banca de Mestrado em Design. Primeira banca que assisto.

Cheguei na sala e alguns poucos interessados em acompanhar, entre eles colegas da minha própria turma de Design 2018. Lá na frente, perto do power point, se preparando para a defesa da dissertação, uma moça alegre, feliz, libertada.

Parece que a banca é a libertação mesmo. Depois de dois anos de entrega, de trabalho duro, muito estudo, chegou a hora de apresentar em cerca de uma hora e meia, que tudo o que você escreveu valeu a pena e será validado pelos Doutores à sua frente. 

Cheguei a dizer pra ela que a sua alegria era "contagiante".

Sim, a banca é libertadora. A nova Mestre em Design irá para casa em seguida, feliz, libertada.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O banco do futuro na ótica do Designer

Não existe pesquisa sem um problema bem definido. Se o problema não for bem definido, a pesquisa e o projeto de design serão prejudicados e os resultados serão vazios. Um dos principais problemas abordados por Friedman no artigo, diz respeito exatamente à evolução do projeto de pesquisa a partir da definição do problema (“o problema vem primeiro”), com a aplicação dos métodos de pesquisa, abordagem e desenvolvimento da teoria, ponto de partida para a definição das soluções.

O único consenso que existe no mercado atualmente sobre como será o banco do futuro diz respeito à distância do cliente da agência bancária. Ou seja, todos pensam assim e acreditam que tudo pode ser resolvido com um aplicativo.

Ora, se o design é o campo onde se pensa soluções novas, inovadoras, por que não então, justamente desenvolver uma solução criativa para o banco do futuro, que seja mais que um aplicativo? O banco do futuro não se constrói apenas a partir de Fintechs bem-intencionadas. Provavelmente, designers precisarão engajar-se no entendimento das necessidades dos clientespara saber onde os bancos poderão ajudar eque ferramentas serão usadas.

A ótica do designer fica bem clara no artigoquando o autor propõe, com a citação de Whetten, que as questões devem ser respondidas pelos quatro elementos de qualquer teoria: what, how, why, who, where, when. Podemos traduzir as questões por uma metodologia “5W1H”. Se estivéssemos falando no campo da administração, acrescentaríamos o “how much (5W2H).

Por que o designer não deve se preocupar com o “how much”? Por que o designer não pode estar atento a custos, viabilidade financeira, investimento e retorno. O designer deve propor soluções criativas para problemas complexos da sociedade. Do contrário, a criatividade estará presa a uma âncora que não é (e não deve ser) de conhecimento do designer. No caso do banco do futuro, colocar um aplicativo em lugar do banco atual, seria uma solução proposta por um “administrador preocupado com custos(preocupação “do banco para as pessoas”). Simples: os clientes sairiam das agências e o problema estará resolvido. Porém, é isso mesmo que o cliente espera?

Entendo que as soluções devem ser desenvolvidas “das pessoas para os bancos”.Assim, a proposta do projeto será exatamente identificar as necessidades do ponto de vista das pessoas, coletando informações e identificando desejos que justifiquem a preocupação com a experiência do usuário ao usar um banco.

 

FRIEDMAN, K. Theory construction in design research criteria: approaches, and methods. Design Studies, Oxford, v. 24, p. 507-522, 2003.