Segundo Castells (2010), todo tempo parece ser específico a um determinado contexto, o tempo é local. De fato, o tempo foi nosso maior aliado e, às vezes, maior inimigo, no contexto do Mestrado. Cada um do seu jeito, superando as adversidades, as noites mal dormidas, as madrugadas de aprofundamentos em frameworks aprendidos.
O ano de 2016 foi intenso. De
leituras, leituras e mais leituras. Trabalhos, trabalhos e mais trabalhos. Acredito que todos concordam com Bentz
(2016): "é muita coisa para ler e pouca vida". Por isso, eventualmente, sim, nos
permitimos em 2016, ler apenas as páginas pares. Às vezes, apenas as páginas
ímpares. Variamos muito durante o ano.
Mas não importa. O que importa é
que mais um ano se foi. Mais um ano ficou para trás, com muitos créditos acadêmicos concluídos. Borboletas. Porém, resta um outro punhado de créditos para cumprir no ano
que vem. Uns mais, outros menos. 2016 foi o ano em que incluímos o desconhecido na nossa rotina. A
desconhecida, porém desejada, jornada do Mestrado.
Aprendemos muita coisa em 2016: Morin,
Manzini, Desmet, Cross, Zurlo e Ouden (lista não exaustiva). Aprendemos muita coisa sobre design, métodos,
experimentos, inovação.
Entretanto, nosso maior aprendizado, lhes asseguro, foi em redes. Rede de inovação? Rede de projeto? Rede
colaborativa? Não: rede de amizades. Uma rede que começou a ser formada em
março desse ano e a cada dia de aula que tínhamos ficava mais intensa. Novas conexões foram se formando e mais tarde foram se fundindo com outras turmas até que chegamos no final do ano com três turmas de Mestrado compartilhando experiências ao mesmo tempo. Que momento! Novas amizades, novos projetos, novas
caronas, novas experiências foram viabilizadas por esses mestrandos que não se
acomodaram para “dar jeito” nas coisas. Aprendemos uns com os outros. E, por
grupos de whatsapp e facebook, os “discípulos de Morin” deram força uns para os
outros. O prazo do artigo estava chegando? Uma fotinho de incentivo, um
comentário encorajador (ou mesmo de desespero), sempre fez com que fôssemos
mais longe. Bem longe, perto das 22h15.
Foram seminários, workshops, artigos,
exercícios projetuais. Relações racioafetivas e inspiração para cada uma das semanas, mesmo que essas fossem
contadas de trás para a frente. Cabritos. A intensidade
do Mestrado só não foi mais forte que a intensidade dessa amizade em rede. O
ecossistema fortalecido a cada semana que passava. O ecossistema que tornou
mais forte a rede, que sempre demonstrou mais força na sala CPA306, no formato tradicional, com a "bancada do agronegócio" ao fundo. A epistemologia,
hemorragia da desordem que transformou a degradação anunciada em uma rede
concreta, sustentável e com bases fundadas na complexidade. Mas concordamos, tudo nesse ano foi complicado.
Não ocorreu, desde o espremedor
de Phillipe Starck, um design tão perfeito como esse que criamos: pragmáticos e
reflexivos. Essa divisão conquistou muita gente. E, muito embora essa divisão não diga absolutamente nada para o ecossistema ao redor do nosso, diz muito
para a gente. E sobre a gente. Orangotangos.
O ecossistema que talvez dividisse a turma, mas que trouxe um
significado ainda maior: nos uniu cada vez mais naquilo que seria um registro de uma forma metafórica do significado teórico (BENTZ, 2016). É impossível falar de
pragmáticos e reflexivos sem lembrar de Van Onck (1965). O deslocamento existencial de
cada um de nós nos transformou em “pragmáticos reflexivos” e “reflexivos
pragmáticos”, de modo que tivemos que desenvolver certas habilidades para
sobreviver 2016. De todas as atitudes do designer (MICHLEWSKI, 2008), me parece
que “criar e trazer à vida”, foi a grande habilidade que nos uniu. Criamos
artefatos, reflexões, e trouxemos à vida artigos que ajudaram nos diferentes raciocínios,
para entender o contexto da complexidade que vivíamos. Autopoiese.
A atribuição do designer de ver,
prever e fazer ver (ZURLO, 1993) nos fez ver as tarefas que tínhamos que
entregar durante o ano, prever os impactos de nossos trabalhos e fazer ver
artigos, seminários, exercícios projetuais. Semanalmente.
Nesse ano, acompanhamos a história do Caramelo (ANDRADE, 2016), vimos colegas marcando presença no SXSW (PAZ, 2016), acompanhamos a batucada tomar conta (LUZ, 2016), uma aceleradora acelerar cada vez mais (MAKARIEWICZ, 2016), a intenção das casas colaborativas virarem Cooperativas (BUENO, 2016), e, por consequência, também compreendemos o quanto "ser cooperativo" é legal (SANTOS, 2016). Aprendemos a ser mais cachorro (BOLZAN, 2016), nos demos conta que tem sim como conciliar o Mestrado com os desenhos, mesmo que simultaneamente (FRIEDRICHS, 2016), aprendemos que sempre tem um lado positivo para ver as coisas (SILVEIRA, 2016), descobrimos como respirar fundo e falar um raciocínio em 5 minutos sem parar (MANDELLI, 2016) e percebemos mais uma perspectiva de atração a riscos (LACERDA, 2016). Em Estudos Avançados, entendemos como é possível fazer 8 logotipos originais em 40 minutos (LORENZ, 2016). E vimos as semanas serem contadas de trás para a frente (LIMA, 2016). Compreendemos que o Mestrado é muito mais que os créditos acadêmicos obrigatórios (VIANNA, 2016) e também aprendemos que se nada mais tiver jeito, Igrejinha está de braços abertos com a Oktoberfest (COPES, 2016) para esquecer tudo.
E, nesse contexto complexo, em
meio às curvas de Gaudi, às obras de Eiffel ou aos ecossistemas de Ouden, vemos
o ano de 2017 se avizinhar. Estamos a alguns dias de iniciar o ano com mais dois desafios de “fazer ver”: fazer ver o artigo de redes (agora com prazo até
01/02) e o artigo final de Processos e Significação (prazo de 28/02). Em meio às nossas férias, veremos data se aproximar, preveremos o
resto do ano... e, não haverá alternativa: precisaremos fazer ver os resultados. E finalmente entregar. Os obstáculos terão que ser superados até o final. E, de acordo com Flusser
(2008), a superação desses obstáculos, criarão novos obstáculos, pois o
calendário será implacável conosco no próximo ano: precisamos fazer ver a nossa qualificação. O prazo
de 31/03 parece arrefecer nossos corações, já que a outros compromissos não nos
permitirão entregar antes disso (risos). Sim,
a vida é dura. Assim como é dura a vida das abelhas.
Mas como nem tudo na vida é
complexidade, teremos as festas de Ano Novo. Sim, porque o tempo dos mestrandos passa mais rápido cada vez que pensamos. Ou
cada vez que pensamos que, além do Mestrado, a vida vivida nos impulsiona para
um 2017 ainda mais intenso. Que só não será mais tenso que o primeiro trimestre
de 2018, quando defenderemos a nossa dissertação, para justificar o trabalho
desenvolvido em 2 anos de amizade. Digo, de Mestrado.
E que 2017 seja um ano cheio de
simplicidade!
Porque, de complexo, já temos Morin. J